quinta-feira, julho 11, 2013

Evolução na Continuidade, Sim, Eleições Para Já, Não!

ONTEM, pela 20 horas e 30 minutos, Aníbal Cavaco Silva, sempre com os cinco sentidos apurados para a tão desejada estabilidade política, bem como para os superiores interesses da nação, deixou bem claro qual é o seu entendimento do conceito "Um Presidente, Um Governo e Uma Maioria", que herdou de Francisco Sá Carneiro, e que sempre acarinhou, só que agora com uma “grande” novidade de “engenharia política”: a maioria será alargada ao PS (o terceiro protagonista do arco da governação e da assinatura do memorando de entendimento com a troika), o mesmo que se tem andado a pôr a jeito, fazendo alguns fretes ao Governo, mas que agora será formalmente cooptado, caucionando um governo de iniciativa presidencial do tipo “evolução na continuidade”, com a promessa de eleições antecipadas só lá para Junho de 2014, depois da troika fazer as malas e ir embora. Eleições para já, está fora de questão. No entendimento de Cavaco Silva, com contornos de uma insuportável chantagem, diz ele que temos que ter juízo e ser bem comportados, pois estamos sob permanente escrutínio dos “mercados” e apertada vigilância da União Europeia, temos que nos esfalfar para amealhar dinheiro para pagar a dívida aos nossos credores, logo não nos podemos andar a distrair com campanhas eleitorais ou perder tempo com eleições, caso contrário o caldo está entornado. Homessa!

Curiosamente, parece-me que ninguém ficou satisfeito com aquela presidencial solução. Quem esperava por eleições antecipadas (PCP, BE e PEV) acabou a rejeitar liminarmente este “arranjo” de compromisso tripartido. O PS que dia sim, dia não, também queria eleições, já disse que não vai dar o seu contributo para este modelo, muito embora não enjeite manter a sua participação nos moldes parlamentares, rejeitando emprestar ao governo uma legitimidade que ele já não tem. Quanto ao PSD e CDS-PP que, tal como Cavaco Silva, fogem de eleições como o diabo da cruz, viram gorada a sua solução de um Governo “recauchutado”, deixaram transparecer que não estavam particularmente entusiasmados com esta solução presidencial, ficando a aguardar as iniciativas e desenvolvimentos posteriores. Quer-me parecer que se o caldo não ficou entornado de uma maneira, vai acabar por ficar de outra, pois o centro de gravidade da crise transferiu-se do Portas do Largo do Caldas para o Cavaco de Belém, passando a residir neste último o factor de perturbação. Imagino que as direcções políticas de todos os partidos políticos, nesta noite que passou, não tenham pregado olho, pois o modelo de Cavaco é enviezado como solução governativa, e retorcido como solução democrática, já que em termos práticos pretende pôr a democracia a hibernar durante um ano, e depois logo se verá. Aguardemos pelas cenas dos próximos capítulos.

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